Com a perspectiva de piora na economia europeia, Dilma afirma que os países emergentes estão preparados para "assumir sua responsabilidade" na economia mundial
Um dia depois de usar o exemplo do Brasil para fazer recomendações aos governos europeus sobre como lidar com a crise econômica, a presidente Dilma Rousseff ofereceu, nesta terça-feira, ajuda para que a Europa consiga estabilizar sua situação financeira e volte a crescer. Na cúpula União Europeia-Brasil, realizada em Bruxelas, na Bélgica, Dilma afirmou que o bloco europeu "pode contar com o Brasil" e que os países emergentes estão preparados para "assumir sua responsabilidade" na economia mundial.
Dilma falou em termos gerais, sem citar valores ou as formas que o Brasil poderia contribuir para evitar uma catástrofe na Europa. "O Brasil, e aqui tenho a certeza que expresso o sentimento das economias em desenvolvimento, está disposto a assumir sua responsabilidade de forma cooperativa", disse. "Somos parceiros da União Europeia, podem contar com o Brasil", declarou ela diante dos presidentes do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. Diante da perspectiva de que toda a economia mundial seja arrastada para uma crise caso a Europa não consiga resolver seus problemas, Dilma afirmou que "toda América do Sul" também deve fazer parte do diálogo sobre possíveis soluções. Segundo ela, no encontro dos próximos dias entre os ministros da Economia da União de Nações Sul-americanas (Unasul), o bloco sul-americano vai coordenar suas posições para a reunião do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países mais ricos e os principais emergentes), que acontecerá em Cannes (França) nos dias 3 e 4 de novembro.
Em sua fala, Dilma tentou salientar a importância do G20, fórum por meio do qual o Brasil vê grandes possibilidades de ampliar sua influência no mundo. A presidente destacou a ação conjunta do G20 em 2008 que, segundo ela, "evitou o colapso bancário e a recessão" quando a crise iniciada no sistema financeiro dos Estados Unidos teve início. Para Dilma, desde então a Europa não conseguiu "retomar o crescimento sustentável" e abriu espaço para "elevados índices de desemprego e a erosão de conquistas sociais". Dilma atribuiu a origem da crise à "ausência de regulação eficaz do sistema financeiro" e avaliou que a crise entrou em uma "segunda etapa" caracterizada pelo "elevado endividamento público na grande maioria dos países europeus". Dilma defendeu uma maior coordenação política entre os países e, como havia feito na segunda-feira, sugeriu que é preciso estimular o crescimento econômico e a estabilidade macroeconômica, "conjugando políticas sociais".
Van Rompuy, por sua vez, afirmou que a União Europeia "está determinada a manter a estabilidade da área do euro e estimular o crescimento econômico e a produtividade". Ele acrescentou que a UE "continuará atuando de maneira contundente para enfrentar as atuais tensões no mercado da dívida soberana e reforçar os alicerces da união monetária".
A crise na Europa tem como maior foco a economia da Grécia, que vai se retrair 2,5% neste ano e cujo deficit chega a 8,5% do PIB. Após anos crescendo às custas de empréstimos baratos e dados econômicos falsificados pelo governo anterior, a Grécia se viu afundada em dívidas bilionárias, que chegam, hoje, a cerca de 170% do PIB grego, algo como 500 mil euros para cada trabalhador do país. A situação insustentável faz com que os países mais ricos da Europa, para evitar o colapso da zona do euro, sejam obrigados a cobrir o buraco da dívida grega, uma prática que causa problemas políticos internos nestes países. A demora e as idas e vindas na aprovação dos planos de resgate têm feito com que as dúvidas sobre a capacidade grega de pagar a dívida aumentem, levando pânico aos mercados. Ao mesmo tempo, outras economias muitos maiores que a Grécia, como as da Itália e da Espanha, apresentam problemas, que exigiriam uma resposta muito mais eficaz da Europa, além de empréstimos muito maiores. Se a desconfiança que pesa sobre a Grécia contagiar os outros países, o desfecho da crise pode ser uma catástrofe financeira não só para a Europa como para toda a economia mundial.
Acordo de livre-comércio
No que diz respeito às negociações entre a UE e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) para um acordo de associação, os dois lados fizeram um balanço e ressaltaram o interesse em culminar os trabalhos para alcançar um pacto "ambicioso e equilibrado" que gere benefícios para todos, apontou Barroso. Neste contexto, Van Rompuy destacou que o acordo não só inclui o livre-comércio – área na qual as negociações estão mais atrasadas –, mas persegue estabelecer uma "relação global" também no terreno político e de cooperação.
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